Redação dos professores: "Violência e segurança pública" - UFG

 

Aprendendo com os professores | UFG | "A seletividade da segurança pública como obstáculo à justiça social no Brasil"

    Nesta publicação, você poderá conferir o parágrafo produzido pelos professores da Argumento: Nayara, Giovana e Raphaella no gênero dissertação aberta, desenvolvidos a partir do tema “A seletividade da segurança pública como obstáculo à justiça social no Brasil”. Este material serve como referência prática para os alunos interessados no vestibular da UFG.


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Confira a coletânea completa para compreender o texto abaixo e use-a para praticar sua redação rumo ao vestibular da UFG.

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         “80 tiros 80/ do gatilho o Estado fardado armado rindo 80/ uma família/ um civil negro/ 80 tiros”. Esses versos, da escritora Dheyne de Souza, constroem a crueldade do assassinato do músico Evaldo dos Santos, em 2019, no Rio de Janeiro. O assassino: a polícia. A vítima: um pai de família preto. Esse trágico caso não é isolado, é representativo de um país em que as forças armadas, que deveriam proteger os cidadãos, na verdade, matam inocentes. Porém, não é qualquer inocente, sabe-se muito bem que o alvo do aparato de segurança do Estado tem cor, tem classe social e tem as marcas de uma história que sempre lhes relegou à condição de subcidadãos e de corpos “matáveis”. Perante esse contexto, é inegável que a seletividade da segurança pública é um obstáculo à justiça social no Brasil, haja vista o racismo estrutural, que fundamenta, por conseguinte, o uso da violência policial contra corpos negros e periféricos

     Diante desse cenário em que há, como apontou o grupo de rap paulistano Facção Central, uma roleta macabra destinada a usar a justificativa da segurança pública para assolar a vida de uma determinada parte da população, é necessário discutir o racismo sistêmico como a égide desse problema. Afinal, embora o filósofo Silvio Luiz de Almeida já tenha denunciado que o racismo estrutural é “uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento”, ainda perdura, no Brasil, um sistema de violação dos direitos com base na raça, sobretudo em relação às pessoas negras, que padecem com políticas de segurança pública que, supostamente, visam garantir o bem-estar, mas que, na verdade, promovem a violência policial e o encarceramento em massa, por exemplo. Em razão desse contexto de violação da dignidade dos indivíduos afetados pelo racismo estrutural e por um ciclo de violência contínuo, consolida-se uma lógica de subcidadania, em que a justiça social segue sem alcançar a todos.

         Como consequência de uma sociedade marcada pelo racismo institucional, vale pontuar que a repressão policial contra a população negra e periférica evidencia o viés discriminatório que orienta a segurança pública no país. A esse respeito, o filósofo Vladimir Safatle explica que o Estado brasileiro governa a partir da necropolítica, administrando quem pode viver e quem deve morrer, o que contrasta com o ideal de John Locke, para quem a sociedade política deveria proteger igualmente a vida de todos, mas que, no Brasil, converte-se em um sistema seletivo que normaliza o extermínio nas periferias. Nesse contexto, mesmo após a criação do Ministério da Segurança Pública, com a função de planejar políticas de prevenção, o governo segue priorizando ações repressivas, que ampliam a letalidade policial e atingem, de forma desproporcional, a juventude periférica, muitas vezes tratada como suspeita sem qualquer prova. A chacina de cinco jovens negros no Rio de Janeiro, por exemplo, evidencia essa inversão de função: quando deveria assegurar proteção, a violência estatal elimina vidas negras, impedindo avanços em equidade social.

        Portanto, torna-se claro que a seletividade da segurança pública, enraizada no racismo estrutural, transforma a violência contra negros e periféricos em prática recorrente, situação que revela a impossibilidade de efetivar a justiça social em um país onde oitenta disparos podem atingir um pai de família apenas por sua cor de pele.
Professores da Argumento

Legenda de cores

  • Laranja → Repertório sociocultural
  • Azul → Operadores argumentativos
  • Roxo → Tese
  • Amarelo → Argumentos 1 e 2
  • Sublinhado → Análise do repertório / do tema

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