Redação dos professores: "Violência e segurança pública" - UFU / PUC / UEG


Aprendendo com os professores | UFU / PUC / UEG | "Redes sociais e privacidade: o papel do indivíduo em um mundo hiperconectado"

    Nesta publicação, você poderá conferir o parágrafo produzido pelos professores da Argumento: Livia, Letícia e Maíris no gênero artigo de opinião, desenvolvidos a partir do tema “Redes sociais e privacidade: o papel do indivíduo em um mundo hiperconectado”. Este material serve como referência prática para os alunos interessados nos vestibulares da UFU, da PUC e da UEG.


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Confira a coletânea completa para compreender o texto abaixo e use-a para praticar sua redação rumo aos vestibulares da UFU, da PUC e da UEG.

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 Brasil e sua política de segurança: o avesso da dignidade para jovens negros

   Ao ler, em “O avesso da pele”, a descrição da morte de Henrique, professor negro assassinado por policiais com três tiros após abrir sua pasta de trabalho, percebi que não se trata de mera ficção, mas de um retrato da realidade vivida por milhares de brasileiros que têm sua vida colocada em risco por sua cor de pele. Afinal, quantas vezes não vemos casos semelhantes estampando os noticiários? O episódio literário revela como o medo infundado que associa corpos negros à criminalidade transforma abordagens de rotina — já tão bruscas e desnecessariamente violentas — em sentenças de morte, alimentando a insegurança nas periferias do nosso país. E se o problema é tão evidente, por que ainda insistir em ignorar o aspecto racial? Fechar os olhos para isso é perpetuar uma lógica em que o Estado, em vez de proteger, ameaça. Por isso, percebo que pensar em segurança pública necessariamente é discutir o racismo estrutural, o que exige rever práticas policiais e construir políticas que reduzam a seletividade da violência.

Diante dessa realidade, observo com preocupação a relação entre o racismo estrutural e a violência policial, em que o uso da força se pauta em critérios de cor, de classe e de endereço. Acerca disso, além da leitura recente do livro de Jeferson Tenório, lembro-me da música “Polícia”, dos Titãs, em que, mesmo lançada há mais de duas décadas, a letra e a performance vociferavam contra a arbitrariedade policial diante “daqueles que mais precisavam dela”, sobretudo os marginalizados, como os pretos, os pobres e os favelados, historicamente estereotipados e ligados à criminalidade. Prova disso é o fato de 90% dos mortos por policiais, em 2023, serem negros, segundo o Brasil de Fato, indicando que as instituições de segurança do Estado atuam mais na ameaça do que na proteção. Certamente, as vítimas não obedeceram, não responderam, não cooperaram ou não respeitaram a autoridade policial, não é mesmo

Ademais, não posso deixar de pôr em evidência o fato de que a falta de políticas que se proponham a reduzir a violência é outro fator que, consequentemente, agrava o racismo estrutural no Brasil. Levando em consideração essa realidade, a criação do Ministério da Segurança Pública em 2018, o que poderia ser lido como uma resposta a essa falta de políticas integrativas, na verdade, representou um aparato ainda mais repressivo das forças de segurança, fato comprovado poucos meses após a criação do Ministério, com a intervenção militar federal no estado do Rio de Janeiro, que elevou o número de mortes violentas, especialmente nas favelas, como noticiou nosso jornal. Esse saldo sanguinolento mais parece um retorno ao estado de natureza, situação que desafiaria até mesmo a conceituação lockiana, afinal, nossa segurança pública revela um estado de licenciosidade em que a imoralidade e a transgressão aos direitos, sobretudo os direitos humanos, tornou-se regra no país em que livros são confundidos com armas, assim como prova o desfecho de Henrique.

Portanto, se a força policial continuar a operar como arma do Estado e os corpos negros seguirem vistos como alvos, a ficção de Jeferson Tenório não será apenas arte: será o retrato cruel do nosso presente.

Professores da Argumento

Legenda de cores

  • Laranja → Repertório sociocultural
  • Azul → Operadores argumentativos
  • Roxo → Tese
  • Amarelo → Argumentos 1 e 2
  • Sublinhado → Análise do repertório / do tema

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