Redação destaque: "Redes Sociais e Privacidade", por Leonora Zanini

 

 Destaque da Semana:

    Nossa aluna Leonora Zanini  conquistou o destaque da semana ao desenvolver o tema “ Redes digitais na contemporaneidade: espaços de liberdade individual ou instrumentos de vigilância e de controle?. Orientada pelo professor Thiago Evangelista, produziu um texto no gênero dissetativo-argumentativo, direcionado ao vestibular da UFG. 

      Para conhecer a proposta de redação completa e se desafiar com o mesmo tema, basta acessar o link abaixo.

Confira a coletânea completa

Confira a coletânea completa para compreender o texto abaixo e use-a para praticar sua redação rumo ao vestibular da UFG.

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    O conceito de privacidade deriva da expressão estadunidense “right to privacy”, ou seja, o direito de não ter sua vida vigiada nem controlada, e surgiu para combater a ideia do Estado como detentor do controle integral dos indivíduos. Entretanto, com o advento e a popularização das redes sociais, percebe-se que, na contemporaneidade, são essas plataformas que operam de modo a invadir a privacidade e a interferir na vida da população, tornando a promessa de proteção da intimidade pessoal cada vez mais questionável. Dessa forma, é inegável o papel das redes sociais como instrumentos de vigilância e de controle comportamental da população.

    Diante desse cenário de violação, vale ressaltar que as plataformas digitais, a partir de algoritmos especializados, são responsáveis pela monitoração constante de usuários e de seus hábitos. A esse respeito, a obra “1984”, de George Orwell, retrata uma sociedade distópica na qual as pessoas são observadas constantemente, através de dispositivos eletrônicos chamados “teletelas”, em um regime liderado pelo “Grande Irmão”. Para além do contexto literário, a violação da privacidade dos cidadãos — ainda que proibida no Brasil pela Lei Geral de Proteção de Dados — permanece evidente na sociedade contemporânea por meio da atuação das redes sociais, que, conforme mostra o documentário “O Dilema das Redes”, utilizam sistemas capazes de analisar interações, conteúdos mais acessados e tempo de tela de cada usuário, com o objetivo de comercializar essas informações a anunciantes e, assim, promover, de forma mais eficaz, seus produtos e suas empresas. Consequentemente, esses algoritmos, que funcionam em prol do lucro das plataformas — traço marcante da lógica neoliberal —, desrespeitam o direito à privacidade e desumanizam os usuários, transformando-os em objetos alienados, cuja função se resume a consumir conteúdos online e produtos oferecidos por empresas. Assim, as redes sociais — o “Grande Irmão” burguês — estão “sempre de olho” nos indivíduos, para assegurar sua lucratividade.

    Ademais, as mídias sociais funcionam como ferramentas de controle comportamental do corpo social, orientando rotinas, preferências e linguagens públicas. Acerca disso, segundo o filósofo Michel Foucault, o poder moderno se exerce por meio de mecanismos diretores de vigilância e de disciplina. Nesse sentido, as plataformas digitais funcionam como um panóptico disperso, no qual a sensação constante de vigilância — exercida tanto por algoritmos quanto por outros usuários — estimula a autocensura e a padronização das condutas. Os sinais de aprovação e de desaprovação, como curtidas, comentários e compartilhamentos, passam a exercer uma instrumentação de validação social, estabelecendo uma opressão simbólica que limita a autenticidade das manifestações pessoais. Além disso, a lógica da monetização privilegia conteúdos que geram engajamento e que reforçam a homogeneização do discurso, intensificando a instrumentalização política das preferências individuais, o que, conforme aponta o Jornal da USP, representa uma ameaça à democracia, uma vez que as redes sociais manipulam comportamentos e influenciam processos eleitorais. Logo, a aparente liberdade individual convive com uma instrumentação disciplinar, vigilante e punitiva, que transforma subjetividades em instrumentos de lucro e de controle ao mesmo tempo que naturaliza formas sutis de dominação. 

    Portanto, a verdade é que, longe de amplificar autonomias, as redes sociais são instrumentos de vigilância e de controle, transformando interações em dados comercializáveis e promovendo autocensura e manipulação comportamental, de modo que a aparente liberdade se mostra limitada e condicionada.


Lara Cristina


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