Redação destaque: "Jeitinnho brasileiro", por Gabriel Antônio

 Destaque da Semana:

    Nosso aluno Gabriel Antônio conquistou o destaque da semana ao desenvolver o tema Os efeitos da cultura do privilégio na formação cidadã e nas instituições democráticas brasileiras. Orientado pela professora Isabella Vilela, produziu um texto no gênero dissetativo argumentativo, direcionado ao vestibular da UFG. 

      Para conhecer a proposta de redação completa e se desafiar com o mesmo tema, basta acessar o link abaixo.

Confira a coletânea completa

Confira a coletânea completa para compreender o texto abaixo e use-a para praticar sua redação rumo ao vestibular da UFG.

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    O conto “O homem que sabia javanês”, do pré-modernista Lima Barreto, narra a história de um homem que, valendo-se da malandragem, finge dominar javanês para tirar proveito do fato de a língua ser pouco conhecida, o que reduz as chances de sua farsa ser descoberta. Com isso, mesmo sendo ambientada no Brasil do início do século 20, a obra assemelha-se à atual realidade brasileira, tendo em vista que grande parte dos brasileiros utilizam de mecanismos públicos ou privados para seu próprio bem, perspectiva ilustrada nas representações internacionais de brasileiros malandros, a exemplo de “Zé Carioca”, de Walt Disney. Dessa forma, é fato que existem consequências da cultura do privilégio, presentes tanto na formação cidadã — com a perpetuação da busca por vantagem sobre outros indivíduos — quanto nas instituições democráticas do Brasil, marcadas pelo viés patrimonialista do brasileiro.
     Diante desse contexto, o desenvolvimento  do caráter cidadão, a partir de um perspectiva de isonomia e de justiça, é prejudicado pela cordialidade dos indivíduos, exaltado pelo contemporâneo regime neoliberal de hiperprodução. Acerca disso, o historiador Sérgio Buarque de Holanda argumenta que a cordialidade do brasileiro não constitui um elogio, mas uma forma de ética emocional voltada ao próprio interesse, que valoriza um modo de pensar orientado pela tentativa de se sobrepor às regras coletivas em busca de vantagens, ainda que isso implique desrespeitar os preceitos democráticos. Nessa perspectiva, ainda que esse fenômeno esteja presente no Brasil desde o Período Colonial, integrando-se à formação social do país, o neoliberalismo intensifica a cultura de levar vantagem, à medida que esse modelo econômico promove uma ideologia de desempenho que Byung-Chul Han, em “Sociedade do Cansaço”, define como ideal de produtividade. Tal lógica estimula uma escalada individual e competitiva de resultados, em que, na busca pela hiperprodutividade, os brasileiros passam a tentar obter vantagens sobre os demais, o que, consequentemente, ocasiona um ambiente de desconfiança mútua e fragiliza as normas e regras coletivas. Prova disso é que, segundo a Confederação Nacional da Indústria, cerca de 82% dos brasileiros acreditam que a maioria das pessoas quer ter vantagens dos outros e, aproximadamente 62%, afirmam não confiar na maioria das pessoas, situações que reforçam a competitividade neoliberal antidemocrática.
     Além desse cenário nacional de cordialidade, é importante discutir como as instituições democráticas são afetadas pelos interesses privados. A esse respeito, a antropóloga Lilia Schwarcz afirma que práticas como o peleguismo, durante a Ditadura Varguista, e a concessão de sesmarias, no Brasil Colonial, ainda se mantêm na atualidade, naturalizadas em razão de uma formação social pouco cidadã e crítica — ainda que sob novas roupagens. Assim, essas práticas contemporâneas de uso indevido do Estado em benefício de interesses privados dificultam a vida dos que não são favorecidos — em geral, pretos, pobres e indígenas —, comprometem a isonomia e corroem o caráter republicano do país. Nesse sentido, Schwarcz evidencia a problemática cultura de privilégio ao ressaltar a fragilidade de uma República fundada no patrimonialismo e na corrupção, em que as moedas foram a troca de favores e o compadrio, o que acarreta a desconsideração pelo cumprimento de leis e a atuação errônea ou pouco efetiva das instituições democráticas do Brasil, perspectiva noticiada pelo jornal Agência Brasil, o qual relata que grande parte dos atuais senadores são herdeiros políticos. 
     A verdade, portanto, é que a cultura do privilégio tem efeitos na formação cidadã e nas instituições democráticas, pois, além da busca por vantagens, essa cultura também mantém um histórico patrimonialismo. Assim, pessoas como a da história de Lima Barreto tendem a continuar sendo vistas com frequência na sociedade.



Gabriel Antônio




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