Redação destaque: “A dificuldade de efetivação de direitos no Brasil” , por Júlia Campos

Destaque da Semana:

    Nossa aluna Júlia Campos conquistou o destaque da semana ao desenvolver o tema “A dificuldade de efetivação de direitos no Brasil”. Orientada pelo professor Thiago Evangelista, produziu um texto no gênero artigo de opinião, direcionado ao vestibular da PUC.

    Para você conhecer a proposta de redação completa e se desafiar com o mesmo tema, basta acessar o link abaixo.

Confira a coletânea completa

Confira a coletânea completa para compreender o texto abaixo e use-a para praticar sua redação rumo ao vestibular da PUC.

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“Espetáculo” de poucos

     “E haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer?” Essa frase do livro “Diário de uma favelada”, da grande escritora Carolina Maria de Jesus, deixou-me com um verdadeiro nó no estômago. Sim, leitor, embora a Constituição brasileira, em seus artigos 5º e 6º, tenha prometido a todos o acesso aos direitos e às garantias fundamentais, a verdade é aquela ilustrada pelo livro, o que me estarrece: para alguns de nossos compatriotas, até mesmo a alimentação é um raro privilégio. A partir dessa triste constatação, estou absolutamente convencida de que, no Brasil, enfrentamos dificuldades de efetivação dos direitos constitucionais. Afinal, nosso país tem sido totalmente negligente quanto a serviços básicos, além de existir um interesse da nossa elite em manter desigualdades.

    Nesse contexto de usurpação de direitos, observo que o principal desafio para a efetivação das garantias constitucionais é a postura negligente do nosso Estado, que não se move quando o assunto é a dignidade do povo. Assim, lembro-me bem dos ensinamentos de Norberto Bobbio, em sua definitiva obra “A era dos direitos”, no sentido de que a garantia dos direitos sociais depende de uma postura ativa do Estado, com o oferecimento de serviços públicos de qualidade. Entretanto, a realidade brasileira escancara que os hospitais, as escolas e as creches do setor público são precários e insuficientes. Então, quais são as consequências disso? Ora, leitor, a debilidade de serviços públicos essenciais impede a enorme parcela miserável da nossa população de acessar esses direitos e de ter uma vida minimamente digna. Logo, não me restam dúvidas: a efetivação dos direitos no Brasil depende de um Estado empenhado em garanti-los na prática e não só na letra da Constituição.

    Outro triste - e ainda mais sujo - vilão da efetivação de direitos é o interesse da elite neoliberal brasileira em manter como privilégio aquilo que deveria ser garantido a todos. Trata-se do que a filósofa brasileira Marilena Chauí nos ensinou quando disse que o ideal neoliberal - a mais indevida importação da cultura americana - busca justamente a privatização de serviços essenciais, como a educação e a saúde, a fim de que esses direitos só sejam acessados pela pequena parcela da população que tem poder de compra. Consequentemente, essa verdadeira estratégia da elite é o que a mantém no topo da estratificação social, enquanto todo o “resto” permanece marginalizado.

    Portanto, estou convencido - e espero que você, leitor, também se convença - de que, enquanto o Estado não assumir seu papel como fornecedor de serviços públicos de qualidade e enquanto existir uma elite interessada em permanecer nessa posição, até mesmo direitos básicos, como a alimentação, continuarão sendo um “espetáculo” acessado por poucos.


Júlia Campos

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