Redação destaque: "As contradições da vida moderna na busca pelo equilíbrio entre o trabalho e o bem-estar", por Estevão Cardeal

 

Destaque da Semana:

    Nosso aluno Estevão Cardeal conquistou o destaque da semana ao desenvolver o tema As contradições da vida moderna na busca pelo equilíbrio entre o trabalho e o bem-estar. Orientada pela professora Nayara Cabral, produziu um texto no gênero dissertativo-argumentativo, direcionado ao vestibular da UFG.

    Para você conhecer a proposta de redação completa e se desafiar com o mesmo tema, basta acessar este link.⇨ Proposta de redação.



     A contemporaneidade, marcada pelo ritmo acelerado e pela valorização da produtividade, revela uma contradição central: a promessa de progresso e de realização pessoal, uma vez que está associada ao esforço constante, causa, frequentemente, desgaste físico e psíquico. O  filósofo sul coreano Byung-Chun Han, em seu livro “Sociedade do Cansaço”, afirma que a busca excessiva por desempenho acarreta patologias como depressão e “burnout”, o que torna insustentável essa lógica de produção contínua. Nesse sentido, a  busca pelo equilíbrio entre trabalho e bem-estar encontra-se em um dilema, pois, ao mesmo tempo, há a exigência incessante de resultados e a necessidade premente de preservação da saúde mental. Assim, é inegável que essas contradições da vida moderna se evidenciam, principalmente, na cultura de produtividade ilimitada e na desvalorização do  tempo livre. 

    Diante desse cenário, é possível perceber que a lógica do desempenho contínuo, ao impor metas inalcançáveis, transforma a vida profissional em espaço de adoecimento. A filósofa Marcia Tiburi aponta que o imperativo de agir incessantemente nas sociedades atuais produz angústia e frustração, já que reduz o sujeito a uma peça na engrenagem de produção. Como consequência dessa realidade, cresce o número de indivíduos com transtornos mentais, como ansiedade e cansaço extremo, a exemplo dos dados divulgados pelo INSS, que registraram aumento de quase 1000% nos afastamentos por “burnout” na última década. Tal realidade mostra que, embora exista um discurso que glorifica a hiperprodutividade como meio de progresso, a pressão incessante corrói o equilíbrio psíquico e esvazia o sentido de trabalho, transformando-o em uma ferramenta.

    Ademais, cabe destacar que a negligência contemporânea em relação ao ócio contraria a concepção de equilíbrio entre trabalho e bem estar. Para o filósofo grego Aristóteles, a eudaimonia – felicidade plena – exigia momentos de contemplação e de cultivo da razão, pois apenas assim o ser humano poderia orientar suas ações segundo a virtude. Nesse contexto, quando a sociedade atual reduz a vida ao trabalho, elimina-se essa possibilidade de pausa reflexiva e de contemplação, e, como consequência, o indivíduo perde a capacidade de atribuir sentido à própria existência. Sendo assim, a ausência de tempo livre não apenas fragiliza a saúde psíquica mas também perpetua uma rotina alienante, na qual o sujeito não se enxerga no mundo capitalista, o que enfraquece a “eudaimonia” e a substitui pela lógica da exaustão na sociedade do cansaço.

    Portanto, a verdade é que tanto o ideal de produtividade ilimitada quanto a desvalorização do ócio contribuem para intensificação da contradição entre trabalho e lazer na sociedade do cansaço.


Estevão Cardeal

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